Relato sobre a visita do Observatório do Ensino Médio em um das escolas ocupadas em São José dos Pinhais/PR

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“Tive a honra e o privilégio de participar durante a tarde de hoje das formações e oficinas na escola ocupada Pe. Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais / PR. Peço licença para relatar:

Por Eloise Medice Colontonio, em 05/10/2016.

O trajeto até a escola já me mostrava a alteridade: a linha de ônibus que sempre tomo para voltar para minha casa hoje estava lotada de estudantes secundaristas. Conversavam sobre as ocupações em suas escolas e ensinavam para aqueles que iriam iniciar a ocupação hoje. À paisana (leia-se sem uniforme), olhos delineados, piercings, muitas dúvidas eles levantavam: “Posso levar meu nargillé?”. “Cara, acho que não tem nada a ver com o movimento isso aí!”. “Você não acha que vão quebrar tudo na escola??”. “Não sei, a galera tá organizada”.

Chegando na escola, entrei pela primeira porta: era a “entrada administrativa” e fui orientada a dar a volta e procurar pela porta dos fundos da escola: a “entrada dos estudantes”. Depois entendi que as diferentes entradas já existiam antes da ocupação, uma para professores, equipe pedagógica e administrativa e outra para os estudantes e funcionários da alimentação e manutenção.

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Os estudantes me receberam como a representante da UFPR, através do Observatório do Ensino Médio em que trabalho há 5 anos. A instituição tem sempre seu peso, é claro, e nesse caso especialmente fui com o intuito de colocar nosso trabalho sobre as políticas para o Ensino Médio à disposição do trabalho destes estudantes para a ocupação das escolas. Além disso, eles deixaram claro que não queriam relacionar o movimento de ocupação com nenhum partido político e com nenhum professor da rede, temendo descaracterizar a identidade autônoma que estão construindo… e estão.

Fui recebida também pela Valkiria, mãe de três filhos. Conheci sua filha Mariana, uma das estudantes a frente da mobilização desta escola. Valkiria organiza a manutenção da limpeza e alimentação dos estudantes e salientou que não interfere em nenhuma decisão sobre a ocupação.

Enquanto os estudantes se organizavam em pequenos grupos de trabalho e reunião, aguardei o momento em que eles me convidariam para fazer o debate. Nesse curto espaço de tempo, o sinal da escola toca, eram 13h40min. E o sinal tocou todas as vezes, a cada 50 minutos, mesmo que não houvesse aula (não nessa forma, não nesse tempo). Aos poucos os estudantes foram encerrando suas tarefas daquela rotina dinâmica, mais rápida do que eu podia perceber sobre seus começos, meios e fins de atividades. Logo me levaram para o “Auditório”: uma sala de aula previamente organizada com cadeiras em círculo. E lá conversamos por pelo menos uma hora. Durante a conversa, chegavam mais estudantes: desta escola e de outras já mobilizadas para a ocupação.

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Chegaram também professores e alunos de uma escola indígena da região. Todos queriam ouvir e falar sobre a Medida Provisória 746 que altera sensivelmente o Ensino Médio, ou melhor: altera os destinos destes estudantes e professores, oferta em pedaços o conhecimento, retira direitos já garantidos através de duras lutas históricas, entre outras questões (Vale ler a MP na íntegra).

Se esse relato te sensibilizou, então, observe se em seu caminho tem uma escola ocupada e pergunte se eles precisam de algo”.

Texto e fotos: Eloise Medice Colontonio, pedagoga, mestra em educação e pesquisadora do Observatório do Ensino Médio da UFPR.

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